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2026, quando o futuro olha para trás

2026, quando o futuro olha para trás

Todos os anos, o Pinterest lança seu relatório Pinterest Predicts, um termômetro curioso do desejo coletivo. Não se trata exatamente do que vai acontecer, mas do que começa a ser sonhado. Recentemente, um clássico termômetro de tendências causou alvoroço nas redes sociais:  a escolha da cor Pantone para 2026, um branco suave, quase etéreo, batizado de Cloud Dancer. Para muitos, minimalismo demais, ou desconectado com o momento...será?

Para quem olha com atenção para os apontamentos do Pinterest, distribuídos em muitas tendências que parecem não se conversarem, dá para detectar um elo comum: o desejo do retorno do afeto e da simplicidade. As tendências de 2026 dialogam intensamente com o universo retrô, não como nostalgia vazia, mas como memória viva, carregada de textura, história e significado.

Uma das tendências mais encantadoras é a chamada “infância retrô”. As buscas por brinquedos dos anos 70 e dos anos 2000 cresceram lado a lado, revelando um desejo curioso de reconectar gerações. Brinquedos analógicos, cores primárias, objetos que pedem tempo e imaginação, em contraste delicado com a pressa digital.

Esse mesmo impulso aparece na valorização dos presentes com cartas escritas à mão. O gesto simples de escrever, dobrar o papel e selar um envelope volta a ser entendido como luxo. Não o luxo da raridade, mas o da atenção. Joias antigas, broches herdados ou garimpados, também retornam como pequenos símbolos de continuidade.

Na moda masculina, o relatório aponta a alta para o "estilo expedição". Camisas com bolsos, jaquetas estruturadas, calças plissadas. O  cáqui reaparece, agora mais sofisticado, menos utilitário. Um visual que sugere viagem, mas também permanência.

Dentro de casa, o lúdico ganha espaço. Tecidos listrados, referências circenses, ambientes que não se levam tão a sério. No campo da decoração, o chamado Neo Déco resgata carrinhos de bar antigos, luminárias pendentes, linhas curvas e materiais que refletem luz com discrição. Tudo parece convidar à conversa lenta, ao estar junto.

Outra tendência que chama atenção é a chamada "Ópera Aesthetic". Tecidos drapeados no teto de casamentos, máscaras decorativas, bailes de máscaras, referências à ópera e ao teatro clássico. Um retorno à teatralidade, não como exagero, mas como celebração do ritual.

Nas viagens, o desejo se volta para lugares místicos e etéreos. Ilhas Faroe, montanhas da Escócia, florestas de bambu em Arashiyama e o Salar de Uyuni, na Bolívia. Mais do que destinos, são atmosferas. Paisagens que parecem suspensas no tempo, onde a estética importa tanto quanto a experiência.

E na cozinha, sempre ela, o repolho vive seu momento improvável de protagonismo. Sim, isso mesmo! As buscas por guioza de repolho, repolho fermentado, versões ao molho Alfredo e a tradicional sopa de golumphi cresceram de forma exponencial. Um ingrediente humilde, versátil, ancestral, atravessando culturas e técnicas.

Confesso que fui pesquisar o que era a tal sopa de golumpki, que apareceu entre as buscas em alta. Descobri que ela é uma versão simplificada do tradicional gołąbki polonês, os charutos de repolho recheados, transformados em sopa, sem o ritual de enrolar folha por folha. Não por acaso, ela é chamada de receita preguiçosa. Tudo está ali, o repolho, o conforto, o sabor de comida feita para aquecer, agora reunidos em uma panela grande, daquelas que ficam no fogo por quase uma hora, enquanto a casa se enche de cheiro e silêncio bom. É preguiça no melhor sentido da palavra, aquela que escolhe o essencial e descarta o excesso.

E o curioso é que as outras receitas mais pesquisadas seguem esse mesmo fio. O guioza de repolho carrega séculos de tradição asiática, a fermentação do repolho atravessa culturas inteiras, da Europa ao Oriente, sempre ligada à preservação e ao cuidado com o tempo, o repolho ao molho Alfredo revisita a cozinha ítalo-americana com seu conforto cremoso. São sabores profundamente representativos de seus países, receitas que nasceram da necessidade, da escassez ou do cotidiano, e que agora retornam como linguagem afetiva. Nada é exatamente novo, tudo é reconhecível.

No fundo, as tendências de 2026 parecem nos contar uma mesma história. Em um mundo cada vez mais abstrato, buscamos o concreto. O que pode ser tocado, lembrado, escrito à mão, herdado, cozido lentamente. O futuro, ao que tudo indica, não quer ser completamente novo. Ele quer ser reconhecível.

E talvez seja isso que o Cloud Dancer tente nos dizer, um pano de fundo claro para que as memórias, as cores e os gestos ganhem novamente espaço. Eu fui uma das que torceu o nariz para uma cor branca como escolha para 2026, mas talvez isso faça sentido.

Conte-me:  Algumas dessas tendências fazem sentido para você, ou despertam lembranças e desejos que já estavam aí, silenciosos, esperando o momento de voltar?

 

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